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Fraude atinge 80% dos negócios no mundo

Fraude atinge 80% dos negócios no mundo

jornal Valor Econômico – Raquel Balarin
24/09/2007

Uma pesquisa mundial que será divulgada hoje pela consultoria de riscos Kroll aponta que, nos últimos três anos, quatro em cada cinco empresas sofreram algum tipo de fraude. O dado mais alarmante vem da América Latina. Na região, 45% dos 900 executivos sênior entrevistados crêem que o nível de fraudes corporativas é um pouco maior ou muito maior hoje, em comparação há três anos. Em segundo lugar vem Oriente Médio e África, com 44%.

Para o diretor-executivo da Kroll no Brasil, Eduardo Gomide, a liderança da América Latina no crescimento do número de fraudes corporativas pode ser reflexo das novas regras impostas pela Lei Sarbanes-Oxley, nos Estados Unidos, após os escândalos da Enron e WorldCom. “As subsidiárias das multinacionais e as empresas daqui com ações listadas nos EUA passaram a ter regras mais restritivas. Passou a ser obrigatório para o executivo coibir a fraude”, explica Gomide.

Embora a percepção sobre o número de fraudes seja grande, a pesquisa – realizada em parceria com a Economist Intelligence Unit (EIU) – também revela que, na região, os valores das perdas sofridas são menores. Pouco mais de um terço das respostas (36%) indicou que as fraudes geraram um custo anual de menos de US$ 100 mil, 20% entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão, 7% entre US$ 1 milhão e US$ 25 milhões e apenas 2% entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões. Não foram reportadas perdas acima disso na América Latina.

Na Europa Ocidental e no Leste Europeu, o impacto das fraudes supera US$ 100 milhões para 3% dos pesquisados e na América do Norte, 2%. “Nos países desenvolvidos, muitas vezes as fraudes são contábeis, realizadas para ludibriar investidores e com impacto grande. No Leste Europeu e na África, temos o crime organizado, as máfias”, diz Gomide.

A mais freqüente causa do aumento da exposição à fraude é a alta rotatividade dos funcionários, com 32%. Esse problema é maior na região Ásia/Pacífico (40%) e menor na América do Norte (25%).

O diretor-executivo da Kroll ressalta que, além de desvio de ativos físicos e de questões contábeis, a pesquisa também enfocou a propriedade intelectual, para detectar casos de pirataria ou de roubo de informações estratégicas. E essa é a principal preocupação dos entrevistados – cerca de 20% deles se consideram altamente vulneráveis a roubo, perda ou ataques de informações. E 31% crêem que o aumento da complexidade dos sistemas de tecnologia está ampliando sua exposição à fraude. É a segunda maior causa, atrás apenas da rotatividade dos funcionários.

As empresas estão cada vez mais dependentes da tecnologia e com estrutura profissional cada vez mais enxuta. Isso, segundo Gomide, leva as pessoas a ter mais obrigações, sem que sejam segregadas algumas tarefas. O mesmo funcionário pode ser responsável por receber as notas dos fornecedores e realizar o pagamento, o que contribui para facilitar a fraude.

“Nas empresas, as descobertas de fraudes muitas vezes se devem a um colega de trabalho, que identifica algo estranho. A única indústria que tem sistemas bem desenvolvidos para detectar as fraudes é a financeira”, diz Vander Giordano, da Kroll América Latina. Por isso, mais do que adotar regras complexas para coibir a fraude, a consultoria de riscos vem defendendo que as empresas têm de reunir o maior número possível de dados e realizar correlações, a exemplo do que já fazem os bancos.

Embora seja o mais bem preparado para detectar fraudes – tanto tecnologicamente, como em controles internos -, o sistema financeiro é também o que mais sofre perdas. O prejuízo dos últimos três anos por instituição é mais do que o dobro da média das empresas analisadas. Além dele, também sofrem perdas acima da média as indústrias de saúde, farmacêutica e de biotecnologia (75% acima da média); de recursos naturais (que inclui mineração e energia, por exemplo) e manufatura. Nestes casos, muitas vezes o número de fraudes é menor do que em outros setores, mas o valor envolvido é muito mais elevado.

Na indústria de recursos naturais, além da previsível fraude de desvio de ativos físicos, a Kroll observou que um quinto dos executivos considerou suas empresas altamente vulneráveis à corrupção, quase o dobro da média. Uma das causas pode ser o fato de que essa indústria tem exploração em países comumente listados entre os mais corruptos do mundo.

A pesquisa também revela que 39% dos pesquisados no Oriente Médio e na África sofreram ameaça de corrupção e suborno nos últimos três anos. Na América Latina, esse índice é de 29% e na América do Norte, 9%. “Fica claro que países com maior presença do Estado na economia têm maior incidência de corrupção e suborno”, diz Gomide.